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Wilton Paes de Almeida 2068

Experiência, integração e futuro

por Daniel Rosa

 O edifício Wilton Paes de Almeida, inaugurado em 1968, se estratificou como um grande marco da arquitetura modernista no Brasil. 

  Seu marcante funcionalismo e apelo estético evocatiam tanto do conceito "domino" apresentado por Lecorbusier como a transparência característica de Mies Van der Rohe.
   Tais características, expressam, em forma, o intento modernista de transformação, uma verdadeira proposta utópica.
  Ideias visam revolver à vida em sociedade ideais racionalistas e de transformação social.
  Tal resgate histórico lastreia o conceito de oportunidades sensoriais e integração que dirige o projeto de edificação que será proposta a seguir.
Igualmente, apresenta à seu partido arquitetônico, tais características de solidez geométrica e transparência.

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Nesse ano de 2068 que se inicia, aquele edifício completaria seu centenário de inauguração. Entretanto, em seu aniversário de 50 vitimou-se em incêndio catastróficas proporções.
Em sua vida, serviu a ambos os lados da divisão social dicotômica vigente à época (elite e proletariado). Inaugurado para abrigar conglomerados empresariais e negócios capitaneados por dirigentes políticos, assim serviu até que envolto em dívidas tributárias foi abandonado, viabilizando sua apropriação pela população carente do estado de São Paulo, que perdurou até seu triste fim.

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Como sabemos, vivemos em um contexto social dividido, uma sociedade divida. Aqueles poucos que conseguiram sobrevier ao vírus que aflige a humanidade desde 2025 desenvolveram resistência e foram capazes de tranferí-la a seus herdeiros. Por outro lado, aqueles que conseguiram se arvorar do contato com o maligno foram forçados a evitar gradativamente seu contato com pessoas e objetos, visto que até o momento não se pode exterminar o vírus de ambientes públicos.
Não prevaleceram as estratégias iniciais de acomodação da vida daqueles que podiam e não podiam. Os que podiam se isolar e não podiam experienciar o ambiente coletivo optaram, inicialmente, por combater o ambiente e não o vírus. 
Tentaram roupas especiais e higienização ambiental. Entretanto, diante da vulnerabilidade e dificuldade de desinfecção de roupas, assim como da falência das estratégias de esterilização ambiental, renderam-se à solução diversa.

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A estratégia que veio a prevalecer até os dias de hoje, entretanto, foi o tão conhecido módulo de locomoção.

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Sua estanqueidade ao mundo exterior, filtragem de ar e razoável adaptação do ambiente edificado permitiram sua proliferação entre aqueles que "tinham e não podiam".
Hoje, muitos contam com um ou mais módulos e casas adaptadas com eclusas de desinfecção que lhes permite manter ambientes completamente estanques, com uma máquina capaz de integrar, ainda que parcialmente, as duas realidades.

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Desse modo, nos últimos cinquenta anos, a par da transformação gerada no âmago da humanidade, as trsnformações no ambiente edificado, assim como nos cinquante anos que antecederam e assim sucessivamente, não foram tão radicalmente marcantes.

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Por outro lado, a história daqueles que sofreram a augruras de um dos momentos mais tristes da humanidade caminhou em outro sentido. Imunes à doença, os sobreviventes e sua prole puderam não apenas experienciar o mundo, como, de certa forma, experienciando maior liberdade, proliferar socialmente.
Assim, o presente momento da história, de equalidade financeira de estratos sociais tão distantes à época do fim do edifício Wilton Paes de Almeida, não representa, em verdade, integração. A sociedade divide-se, hoje, entre aqueles que podem experienciar o mundo com maior liberdade e aqueles que demandam o aparato estanque.

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Diante desse histórico, o que se propõe agora é rememorar os ideais utopicos daquele movimento arquitetônico que baseou o projeto do extinto "Wilton Paes de Almeida".
Visa-se, portanto, em resposta ao comissionamento do Ministério da Integração, erigir um verdadeiro campo de experiências e integração.
Inspirado na máquina que formaliza a divisão social vigente a forma apresentada, a par de sua grande elevação Conta com três espaços ou "estações verticais" distintas, cada qual com número determinado de pavimentos e dispostas em diferentes alturas, ligadas pelo núcleo vertical central hermeticamente isolado. As duas primeiras "estações verticais" destinadas à experimentação coletiva das realidades antagônicas e, a última, à um esforço conjunto pela definitiva integração. 
Sua forma, excessivamente literal, visa contextualizar a força de tal divisão social na experiência humana da atualidade.

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Assim, na primeira "estação vertical", de apenas um pavimento, chamado térreo (ainda que elevado ao nível da rua), de reprodução naturalista, entretanto estanque ao meio. Em tal "estação", aqueles já imunizados podem vivenciar o mundo que lhes é familiar, natural, entretanto mediante a utilização "módulos de locomoção", ao passo em que aqueles não imunes, podem vivenciar a liberdade em um ambiente "natural".
Já na segunda "estação", um centro urbano (comercial, cultural e político), edificado, fechado, estanque, tão natural ao contexto atual, não-imunizados voltam à transitar em seus "módulos" e os demais livres, claro.
Por fim, a terceira "estação" destina-se ao abrigo do laboratório de biossegurança financiado pelo "Ministério da Integração Social". Formaliza o esforço da coletividade para a promoção de liberdade a todos. Esforços científicos, racionais, conjuntos, tanto daqueles que hoje sofrem as limitações de experienciar o mundo natural livremente, como daqueles que tiveram sua ancestralidade massacrada pelo grande mal da humanidade e hoje se compadecem com as dificuldades de seus semelhantes.

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