
Análise.


Marcação do terreno na área. Imagens: GeoSampa
Localização
e um pouco de história...
O terreno é localizado no bairro da Santa Ifigênia, no distrito República, prefeitura regional Sé, no centro da cidade de São Paulo. A área é considerada um dos principais pontos de São Paulo, com o Largo do Paissandú e a Igreja Nossa Senhora do Rosário.
Antes de 1865, a região era conhecida como "Tanque do Zuniga" e o Largo chamado de "Praça de Alagoas": esse tanque era saída de um riacho conhecido como "Yacuba", que se espalhava pela Avenida São João, Paissandu e proximidades. Chamava-se “tanque” pelo encontro das águas das alagoas em aspecto de tanque, em um recesso baixo do terreno, e o nome Zuniga é uma referência ao antigo proprietário do terreno, o Sargento Manoel Caetano Zuniga. O nome Largo do Paissandu só veio depois, idealizado pelo vereador paulistano Malaquias Rogério de Salles, em 28 de novembro de 1865, para homenagear uma das batalhas que antecederam a Guerra do Paraguai, no ano anterior: em 1864, um pelotão do exército brasileiro, comandado pelo general Menna Barreto, apoderou-se da cidade de Paysandú, no Uruguai, como resposta à invasão paraguaia no Rio Grande do Sul.
A Igreja Nossa Senhora do Rosário foi uma adição posterior: a antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que ficava na Praça Antônio Prado (antigamente chamada de Largo do Rosário, no distrito da Sé), acabou transferida para a região.
Mapa de uso do solo
A área possui edificações predominantemente voltadas para o comércio e serviços. O terreno, anteriormente contemplado pelo Edifício Wilton Paes de Almeida, também era voltado para o uso comercial antes de ser ocupado movimentos de luta por moradia.
Comércio e serviços
Residencial e comércio
Residencial
Institucional
Sem predominâncias

Marcação do terreno no mapa de uso do solo. Imagem: GeoSampa

Marcação do terreno no mapa de cheios e vazios. Imagem: GeoSampa
Mapa de cheios e vazios
O entorno é totalmente edificado, com poucos lotes ainda vazios. O Largo do Paissandú é o terreno menos edificado do entorno do projeto, em uma escala mais aproximada.

Marcação do terreno em imagem de satélite. Imagem: Google Maps
Transporte público
Em um raio de 500m, a área possui algumas faixas exclusivas para ônibus, indicando a atuação do transporte no local, além da estação de metrô São Bento. Há vários pontos de ônibus perto do terreno, sendo este o transporte público mais acessível.


Linhas e paradas de ônibus e marcação do terreno. Imagem: GeoSampa
Parada de ônibus em frente ao terreno. Imagem: Google Maps


Marcação do terreno no mapa de cheios e vazios. Imagem: GeoSampa

Lote com vegetação, imagem de março de 2020. Imagem: Google Maps
Cobertura vegetal
Apesar de não encontrar nenhuma massa vegetal notável em mapas de dados georreferenciados, é possível observar que após o desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, há certa vegetação na cobertura do solo do lote. Como a prefeitura regional da área (Sé) é uma das piores em porcentagem de cobertura vegetal, faz-se necessário um trabalho de paisagismo no lote, contribuindo com a região.

Cobertura vegetal por subprefeitura em São Paulo.
Imagem: Folha de S. Paulo
Topografia
O terreno não apresenta desnível significativo. Em um raio de 150m, a área do entorno é relativamente plana, como é possível ver no mapa topográfico. Segundo o Atlas Ambiental do Município de São Paulo, a solo da área é de sedimentos terciários da Bacia de São Paulo (conglomerados, argilas e lamitos com espessuras variáveis).


Distribuição espacial dos principais domínios geológico-geomorfológicos do município de São Paulo. Imagem: Prefeitura de São Paulo



Mapa dos gradientes de declividade no enorno do terreno.

Principais estratégias para o clima de São Paulo. Imagem:
Análise bioclimática
ProjetEEE
Em relação à temperatura o maior desconforto para os cidadãos é por frio do que por calor. Em relação as chuvas o período de maior escassez é em maio, junho e julho. Dispositivos para permitir que o sol permeie os ambientes nos períodos frios, mas que seja possível proteger as fachadas do sol nos períodos mais quentes.



Dados climáticos de São Paulo. Imagem: ProjetEEE
Análise bioclimática
Sol-AR
Essa análise no solar tem o objetivo de guiar o dimensionamento de proteções solares simples (brises, por exemplo). A visualização através de cores na carta solar é muito útil demonstrando as áreas que devemos sombrear para garantir o conforto nos horários e períodos mais quentes do ano.

Análise de temperatura no terreno. Imagem: Produção original.

Carta Solar de São Paulo até 21 de junho.
Imagem: Sol-AR

Carta Solar de São Paulo após 21 de junho.
Imagem: Sol-AR

Radiação Global Horizontal de São Paulo após 21 de junho.
Imagem: Sol-AR

Carta solar da cidade de São Paulo, com transferidor.
Imagem: Sol-AR

Rosa dos ventos, velocidades predominantes em São Paulo.
Imagem: Sol-AR

Rosa dos ventos, frequência de ocorrência em São Paulo.
Imagem: Sol-AR
Ocupação e Habitação de Interesse Social

Dados sobre o desastre do edifício em 2018.
Imagem: Istoé Independente
O terreno onde o projeto está inserido é a antiga locação do Edifício Wilton Paes de Almeida, construído na década de 60 para uso comercial. Foi tomado pela União em razão de dívidas, e ocupado e desocupado ao longo dos anos. Depois de ser totalmente desocupado, tornou-se ocupação de pessoas em situação de vulnerabilidade social e foi colocado à venda pelo Governo Federal em 2015. Várias famílias moravam na edificação há anos quando em 2018 ocorreu um incêndio que levou o Wilton Paes ao colapso. O desastre levou à morte de 7 pessoas e 2 desaparecidos, além de várias famílias que foram desabrigadas.
Uma discussão válida sobre o antigo Edifício é a importância que a ocupação de imóveis ociosos tem para a cidade de São Paulo. A degradação do centro, que choca por ser uma área com tantos empregos e tanta infraestrutura urbana, possui um cenário no mínimo contraditório: como existem tantos prédios abandonados em uma cidade superpovoada, tão carente de espaço?
Segundo o professor de arquitetura Valter Caldana, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, "A falta de segurança e limpeza da região são muitas vezes usadas com explicação para o abandono, mas na verdade a degradação veio depois que as pessoas saíram, não o contrário". Caldana afirma que o processo de abandono na região central da capital foi iniciado nos anos 70, quando a Lei de Zoneamento de 1972 tornou os bairros do entorno mais atraentes para a população e para o mercado imobiliário, descuidando-se do centro. O processo de esvaziamento foi ainda mais intensificado pelas grandes obras viárias, como o mackenzista afirma: "A construção de grandes terminais de ônibus e do Minhocão, por exemplo, reforçou a ideia de que ali é uma região de passagem: não fique aqui, você não pertence a este lugar." À medida que os paulistanos mais abastados foram deixando as avenidas São João e Ipiranga, os maiores centros de comércio e serviços também se mudaram. Foram construídos shoppings em outros bairros, e os bancos foram para a avenida Paulista.
O desinteresse econômico iniciado na década de 70 levou a outro efeito colateral: a manutenção dos prédios vazios e o acúmulo de dívidas do IPTU se traduziram em prejuízo para os proprietários que, por sua vez, acabaram abandonando as edificações. O mercado imobiliário alega que, para reformar prédios antigos, a burocracia é tão grande que acaba inviabilizando as obras. Porém, pela legislação, o poder público tem o dever de interferir em propriedades que não cumprem a função social da propriedade (princípio básico do Estatuto da Cidade, lei federal 10.257/2001), a qual informa que a propriedade inserida no meio urbano deve ser utilizada para o bem-estar de toda a população, como moradia ou para atividades econômicas, sociais e culturais, não apenas um direito individual.
Seguindo a Constituição, o Estatuto da Cidade e o Plano Diretor Estratégico de São Paulo (de 2014, que também se fundamenta no princípio da função social das edificações urbanas), habitar é um direito da população, e prédios abandonados que não cumprem sua função social de propriedade não estão seguindo a própria legislação. A ocupação de edifícios desabitados pode ser até benéfica: segundo a presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, “Quando ocupados, esses imóveis, que estavam se degradando com o tempo, servindo de depósito de lixo e de abrigo para ratos, ganham vida, são recuperados e o local ganha segurança com a maior circulação de pessoas”, e “Ocupar não é crime, crime é deixar prédios abandonados numa cidade com milhões de pessoas sem moradia, vivendo nas ruas ou muito longe dos bairros com ofertas de emprego”.

Wilton Paes de Almeida em 1969 e 1980, respectivamente.
Imagem: São Paulo Antiga


Escada helicoidal no Edifício, antes e depois.
Imagem: Veja São Paulo

Escada helicoidal no Edifício, antes e depois.
Imagem: Folha de São Paulo